quinta-feira, 28 de março de 2013

SEMANA SANTA

JUDAS, CULTURA NORDESTINA
TRIBUNIVERSAL MOSTRA JUDAS NA RUA MANOEL QUEIJO, EM SÃO MIGUEL
Vídeo cultural documenta passagem da Semana Santa
     O contexto ritual da malhação: A Semana Santa Católica. A malhação do Judas é um ritual católico que se inscreve nas celebrações da Semana Santa, período que marca simbolicamente a imolação, sacrifício e ressurreição de Jesus de Nazaré para a crença cristã. Festa móvel intimamente relacionada ao Carnaval, de modo geral, a Páscoa é comemorada quarenta e nove dias depois do Domingo de carnaval. Segundo Manfred Lurker ( 2003, p. 522-523) a Páscoa cristã tem duas raízes, uma pagã e outra judaica. Entre os pagãos era uma comemoração da primavera e seus cultos e ritos estavam associados aos ciclos lunares e solares. Como festa da primavera celebrava a entrada de um ano novo e assim foi mantida pela cultura judaica e pelos primeiros cristãos. Na Páscoa, os judeus também celebram o Êxodo, fuga do Egito, liderado por Moisés. O Domingo de Ramos celebra, na cultura cristã, a entrada de Jesus em Jerusalém durante o tempo de Páscoa. O povo judeu o recebeu acenando com ramos verdes e folhagens, sendo esta a origem para a benção dos ramos no domingo que abre a Semana Santa. Assim, o Domingo de Ramos é uma data muito importante, pois inicia as celebrações Pascais ocorrendo sete dias antes do Domingo de Páscoa. Outro dia importante neste ciclo é a Sexta-feira Santa, que acontece dois dias antes da comemoração da Páscoa. A tabela abaixo apresenta um modelo de calendário da Semana Santa.

FOTO: JAIR CORDEIRO
Judas na rua Manoel Queijo
Judas Iscariotes na Tradição Cristã

     Ao longo de quase dois mil anos, a figura de Judas Iscariotes tem sido motivo de muitas polêmicas na cultura ocidental. Yehudhah ish Qeryoth foi um dos doze apóstolos escolhidos por Jesus de Nazaré ara segui-lo em sua nova doutrina. De acordo com os textos presentes no Novo Testamento, (Mt 10:2-10): Os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago e Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu. O Novo Testamento presenta Judas Iscariotes como o encarregado da bolsa de dinheiro, uma espécie de tesoureiro responsável pelas doações para a manutenção das atividades missionárias dos apóstolos. Em Jo 12:2- 6, o evangelista narra o episódio no qual Maria, uma residente da localidade de Betânia, unge os pés de Jesus Cristo com um bálsamo e os enxuga com os próprios cabelos. A reação de Judas Iscariotes, descrita na passagem é a seguinte: Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava pra traí-lo, disse: ‘Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres?’ Isto o disse, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava. Assim se compõe a imagem de Judas apresentada nos evangelhos de Mateus e João, nos quais ele aparece como o “traidor” e o “ladrão”. NT. p. 10. (grifo nosso). NT. p. 88-89. (grifo nosso). Ora, o Livro dos Salmos (55: 13,14), havia predito que um amigo íntimo do Messias seria o seu traidor e a partir do momento que Jesus de Nazaré apresentou-se como um novo christós, era natural que o arcabouço simbólico em torno das profecias começasse a ser utilizado. Dos quatro evangelistas do Novo Testamento, foi Mateus quem mais se reportou a presença de Judas Iscariotes não apenas enquanto discípulo, mas principalmente como o responsável pela traição de Jesus de
Nazaré. Judas Iscariotes teria agido de forma espontânea, ou teria sido tentado pelo Satanás,   egociando a vida do seu mestre com o sinédrio judeu. O anúncio da traição aconteceu na última reunião realizada por Jesus de Nazaré com os seus apóstolos, também conhecida como a Ceia do  Senhor. Nela, Jesus indicou que seria traído por um dos seus discípulos. Ainda segundo os evangelhos, após a ceia Jesus teria reunido os apóstolos mais íntimos para orar num lugar chamado de Getsêmani,
palco da sua prisão. Simultaneamente Judas Iscariotes teria-se dirigido ao sinédrio para enfim entregar o seu mestre. Depois então, ele se juntou aos demais apóstolos e mestre. Saudando Jesus, deu-lhe um beijo, sinal previamente combinado para identificá-lo para os soldados. Contam ainda os evangelhos que Judas teria recebido 30 siclos. pela sua traição. Após a prisão de Jesus, pode-se ler em Mateus 27: 3-5: Então, Judas, o que traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos dizendo: ‘Pequei, traindo sangue inocente’. Eles, porém, responderam: ‘Quem nos importa? Isso é contigo. ’ Então, Judas, atirando para
o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se. O suicídio de Judas Iscariotes cumpriria com os textos proféticos do Velho Testamento, servindo para reforçar tanto a sua imagem de 15 Conselho dos sacerdotes. Moeda utilizada na Palestina. Trinta siclos era o valor de um escravo da época. Livro do profeta Jeremias.
Malhação é no sábado
     A Malhação do Judas: Rito e Identidade,  traidor, já predita, quanto aquela de ladrão. Nem mesmo seu arrependimento foi aceito, não restando para ele nenhuma alternativa além do suicídio ou auto-banimento. Com a crucificação de Jesus, o trabalho de evangelização de seus apóstolos cresceu e ultrapassou as fronteiras da Palestina atingindo outras áreas do Império Romano. Se o imperador Constantino proclamou o Edito de Milão (313 AD), conferindo liberdade de culto aos cristãos, foi o imperador Teodósio quem tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano no ano de 395 (CORNEL; MATHEWS, 1996, p. 188-189). Desde então, coube à Igreja Católica a tarefa de sistematizar os dogmas e conferir legitimidade para alguns textos considerados canônicos, sendo tarefa do bispo Irineu de Lyon selecionar os textos produzidos pelos primeiros seguidores do cristianismo, chamando-os de Novo Testamento. Nessa “escolha” todas as versões que apresentavam versões divergentes daquela esperada pela Igreja Católica foram descartadas, permanecendo oficiais e reconhecidos como legítimos apenas quatro evangelhos: Mateus, Lucas, Marcos e João. Quanto a Judas Iscariotes, o cristianismo construiu sua representação como a de um judeu arquetípico alimentando o anti-semitismo a partir das interpretações dos próprios evangelhos. Entretanto, no ano de 1984 foram encontrados numa caverna no Egito manuscritos em velhos pergaminhos do século IV que trouxeram uma nova luz para a figura de Judas e foram ao mesmo tempo um verdadeiro achado tanto para a arqueologia quanto para a antropologia da religião: O evangelho de Judas. A descoberta desses pergaminhos amplamente divulgada pela imprensa (MEYER, 2006) acendeu a discussão sobre o verdadeiro papel deste discípulo no cumprimento das profecias bíblicas e na consolidação do cristianismo no mundo, já que eles reabilitariam o discípulo como o único que teria compreendido a mensagem de Jesus. Entretanto, mesmo que ocorra alguma assimilação desta nova mensagem por parte do credo cristão, o imaginário popular o vê não apenas como aquele que vendeu o seu próprio mestre por trinta siclos, mas também como alguém que personifica a própria ganância, traição, covardia e remorso. Veremos de que maneira seu personagem transforma-se em um boneco emblemático que representa um dilema moral. Sal, sentimentos e valores que expressam o conflito e a tensão entre as condutas exemplares e as fragilidades humanas. Por personificar esta tensão social a nível coletivo, o Judas e sua malhação podem ser apresentados como um plano metafórico da própria dinâmica social das comunidades que o praticam. Apresentamos a seguir, uma revisão bibliográfica das suas múltiplas interpretações nos diversos contextos relatados pela análise sócio-histórica e antropológica do Brasil e de Portugal, antes de partirmos para a nossa etnografia sobre o Judas nas Rocas.

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